sexta-feira, 15 de novembro de 2024

PAGODE DA MART'NÁLIA

                                         

VERSÃO EM ÁUDIO


A coisa mais fácil do mundo é elogiar amigo, não é mesmo? E é isso que vou fazer aqui neste post, com muita satisfação e alegria, sem o menor constrangimento. E o elogio tem um sabor especial quando você vai falar do trabalho da amiga onde você teve a oportunidade de participar.

É o caso do álbum recentemente lançado pela Sony Music, “PAGODE DA MAR’TNÁLIA”.

Este trabalho é um daqueles casos em que a personalidade do cantor ou cantora nos leva a pensar que o repertório foi composto para o intérprete, ou composto por ela mesma. Caso do pai. Mar’tnália colocou sua marca num repertório de pagodes de sucesso dos anos noventa, trouxe convidados ilustres para o jogo (Martinho da Vila, Caetano Veloso, Luiza Sonza) e reciclou as canções através da brilhante batuta do pianista e arranjador Luiz Otávio, de quem falarei mais, um pouco mais adiante.

Este álbum idealizado por sua empresária Márcia Alvarez e produzido por ela junto com Marcus Preto, atingiu de forma brilhante o objetivo de fazer um afago em todos aqueles artistas e grupos que fizeram a trilha sonora de uma época, um samba com outro sotaque, adorado por muitos, deixando outros de nariz torcido. Mas a realidade é que o foco daquele estilo era propiciar alegria, divertimento, romance, sem outras temáticas mais complexas próprias do samba dos fundos dos quintais, das eternas e tão ricas raízes do samba de sempre.

O sorriso de Mart’nália cantando nos chega aos ouvidos, o suingue de Mart’nália dividindo as percussões com André Siqueira, é f..., as performances de Theo Zagrae na bateria, honrando o talento materno e paterno, os contrabaixos de Ivan Machado, Jamil Joanes e Rômulo Gomes segurando toda a onda, o banjo salgueirense de Fred Camacho e o meu violão “sassaricando” no meio disso tudo, feliz da vida, nos propiciaram belos momentos nas sessões de gravação.

Uma das coisas mais importantes, na minha opinião, é que em álbuns deve-se estabelecer um conceito. Álbum é conceito, não é só uma sucessão de faixas, tem que contar uma história, ter uma marca, um mote, é o que sempre procurei fazer nos meus discos e nos que eu produzi.

“PAGODE DA MART’NÁLIA” esbanja conceito, pena que passa rapidinho, pena que acaba logo, não é mesmo Luiz Otávio? Rsrs

Faço aqui um destaque especial para o arranjador e tecladista Luiz Otávio, que conceituou os arranjos para soarem chiques, modernos, sem perder o essencial groove do samba. Não dispensou o uso da guitarra do brilhante Júlio Raposo, usou com elegância o nipe de cordas, dividiu o backing vocal com Mart’nália e Ronaldo Barcelos trazendo para o trabalho um sotaque “música black” do qual a cantora também é muito fã. Coisas de pretos criados de Vila Isabel pra cima. Enxergou longe, o Luiz.

Em tempo, o botafoguense Ronaldo Barcelos, autor de vários sucessos,  participa também como autor de uma das faixas, “Eu e Ela”, em parceria com Délcio Luiz.

É isso gente. Partiu plataforma digital. Álbum para ser ouvido com fone, mas que merece também se colocado nas caixas de som de um DJ Café, para ser tocado em alto e bom som por todo canto, nas calçadas suburbanas, nas praias em dia de domingo. Música para festa e tomar umas junto. Parabém a todos os envolvidos.

 

terça-feira, 12 de novembro de 2024

AINDA ESTAMOS AQUI (Por Cláudio Jorge)


VERSÃO EM ÁUDIO

Assisti neste fim de semana duas manifestações artísticas afins. A peça do Othon Bastos, “Eu não me entrego não”, e o filme “Ainda estou aqui”. Os dois eventos provocaram em mim muitas emoções, sensações, e sem mudar a rima, provocaram também reflexões, como é capaz de produzir toda manifestação artística que se preze.

Escrever sobre “Ainda estou aqui” é até fácil, sob o ponto de vista do meu relato, difícil sob o ponto de vista da história. É muito natural e necessário dirigir todos os aplausos para a interpretação maravilhosa de Fernanda Torres no papel de Eunice, esposa do Deputado Rubens Paiva, morto sob tortura nas dependências do exército brasileiro na época da ditadura militar, tema do filme.

Impossível não se compadecer do drama de Eunice, com filhos ainda pequenos, sob a elegante, altiva, comovente interpretação de Fernanda. Putz, estou aqui me controlando para não dar uns spoilers.

Mas uma reflexão que chegou a mim vinda da tela, é de como a irracionalidade e maldade humanas, sob o pretexto de acabar com o “comunismo”, pôde destruir famílias, destruir trajetórias de vidas, destruir tecidos sociais, interromper progressos humanitários, impedir o progresso do Brasil, em várias escalas, até hoje. “Ordem e progresso” estampado na nossa bandeira já diz tudo. Se fosse “Paz e amor” seria tudo tão diferente...

Digo até hoje no sentido que as pessoas que promoveram aquele estado de coisas continuam ativas, inimputáveis, e também no sentido de que os gritos de sofrimento nas salas de torturas continuam ecoando nas mentes dos mais velhos que viveram aqueles tempos. Neste filme, mais uma vez, experimentamos o relato da mazela que é a tortura do homem pelo homem, aquela coisa que deixamos embaixo do tapete, até a hora que acontece com a gente ou com alguém próximo da gente.

A família Paiva morava em Ipanema, de frente pro mar, privilegiados na escala social e mesmo assim, não escaparam da maldade, da crueldade. Me inspiro nas infelizes palavras do Paulo Maluf, “estupra, mas não mata”, para perguntar: não dava para prender, julgar, condenar, mesmo que injustamente, mas sem torturar? Não.

As ditaduras abrem portas para as manifestações humanas mais macabras, nos esconderijos das cadeias, nas noites, nos porões, enquanto a vida segue o baile, com o Brasil sendo campeão da copa de 70 com festa em tudo quanto foi canto.

Pensar diferente custa caro, ter opinião própria, publicamente, custa caro, ser contra uma corrente pode ser fatal, e assim vamos seguindo nossas vidas nos equilibrando, cercados de limites, com duas escolhas pelo caminho: produzir clips com o tamanho que for preciso, ou se submeter aos noventa segundos impostos pelo Instagram, por exemplo.

Para não misturar os climas numa mesma crônica escreverei sobre “Eu não me entrego não” na próxima, mas o título da peça pode completar a crônica do filme, né? Beijos.

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

MAIS UMA VEZ RECOMEÇAR (Por Cláudio Jorge)

VERSÃO EM ÁUDIO

O tempo passa, o tempo voa, o tempo é o dono da nossa coroa. 

Inventei este versinho para começar uma crônica de recomeço. Estou vivendo um tempo de recomeços em algumas situações de minha vida. Por exemplo: recomecei a vibrar com futebol à partir da dessa temporada do meu glorioso Botafogo que não sei ainda como terminará. Recomecei a frequentar a academia por conta de alguns distúrbios na saúde provocados pelo sedentarismo. Recomecei a cozinhar em casa, um prazer aprimorado na pandemia, só que agora maravilhado com as possibilidades de uma air fryer que estava escondida no armário. Recomeçando em várias coisas, por que aos setenta e cinco anos o tempo passou e agora a fase é de novos tempos, que pode ser breve, que pode ser longa, mas que tentarei que seja intensa, prazerosa.

Estou me preparando para uma quarta idade longeva, sonhando com a possibilidade de realizar tudo aquilo que deixei passar por conta do "depois eu faço", e com isso o baú físico e o da memória estão lotados. Não são poucas coisas, acho que não haverá tempo, mas terei tempo de pelo menos tentar e concluir em outra dimensão. Pois é, acredito nessas coisas.

Este recomeço de uso do meu blog está entre os velhos novos alvos. Primeiro porque escrever sempre me fez bem, talvez nem tanto aos que têm tempo e interesse em me ler, mas me sinto organizado quando escrevo, me sinto me comunicando comigo mesmo, como se estivesse rezando para o meu Orixá, e as respostas vêm, junto com as dúvidas, as dívidas, junto com alegrias, tristezas e reflexões.

Este recomeço com a escrita, tentando que seja agora de uma forma regular e  em papel digital, tem a ver com um certo cansaço em relação as novas mídias de comunicação com as pessoas, com o pequeno mas fiel público que curte minhas coisas.

Eu não sou chegado àquela história de que o mundo antigamente era melhor. O mundo na real é aquilo que a gente vive perto da gente, o resto é quase miragem, cenas de um filme que passa num cinema longe de casa. As guerras que assolam o mundo, a eterna fome que alimenta a África, o crime, a corrupção, catástrofes da humanidade que muitas das vezes são só noticias da TV ou internet.  O racismo, a homofobia, o eterno tratar mal às mulheres por parte dos homens e por aí vai. Muitas das vezes temos a sensação que  tudo isso não faz parte do nosso mundo e então o lance é  partir pra outra cerveja e vamos em frente. Se o mundo ao longo do tempo foi cruel, injusto, bonito, surpreendente, assustador, acolhedor, hoje, pelo menos pra mim, ele é sim muito chato. Existe dentro de mim um embate entre o real e o virtual que me cansa, e eu saquei isso a tempo e resolvi recomeçar retomando a linha evolutiva de quase tudo, o que me for possível.

Mas o fato é que estou de saco cheio do Instagram, do Facebook, o X eu cancelei, embora eu ainda me utilise destas fermentas para divulgar shows e curtir coisas antigas garimpadas nas redes.

Estes espaços virtuais de canções e textos curtos, com má vontade com "textões" e canções de três minutos, não estão mais me confortando, especialmente em relação a veiculação de minhas crônicas. O meu LUGAR DE FALA foi bem recebido e está eternizado (será?) no Youtube, enquanto a ilha com os backups não afunda, mas estou vivendo um tempo que estou preferindo que minhas coisas sejam mais lidas e ouvidas do que vistas.  Particularmente acho um porre sem drinks ler o texto na parte de baixo do vídeo com o celular em pé, acho uma pobreza, por isso, usando uma palavra já desgastada, irei disponibilizar também minhas crônicas em áudio, para aquelas pessoas portadoras de deficiência visual.

Voltar a escrever em meu blog é tipo uma fuga, uma ida pra Parsagada onde não conheço o rei, um botar a cabeça pra fora e respirar, mesmo sabendo que a maioria das pessoas prefira o audio visual. Eu também, aliás, sou um péssimo leitor de livros e espero conseguir incluir este hábito nos próximos tempos.

Enfim recomeçar a escrever, e com regularidade, faz parte de uma tentativa de organização do meu material escrito para que um dia eu venha a publicar algum livro, impresso, com coquetel de lançamento e comemoração na Taberna da Glória, já que o Baiano deixou o Bar Getúlio escapar pelos dedos.😉

Então meus três leitores,  vamos nessa? Deixe um comentário no blog, compartilhaí e segue o líder, quer dizer, segue o link. 😊

Cláudio Jorge


PAGODE DA MART'NÁLIA

                                          VERSÃO EM ÁUDIO A coisa mais fácil do mundo é elogiar amigo, não é mesmo? E é isso que vou fazer a...